quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Afinal, o que é um MUSEU-FÓRUM

O conceito de Museu-Fórum, em oposição a Museu-Templo [1] foi introduzido por Cameron em 1971, mas, ao contrário do que seria esperado, em mais de trinta anos decorridos de sua publicação, as questões abordadas pelo autor continuam pertinentes. A despeito da crise de identidade que acometeu os museus após a Segunda Guerra Mundial, Cameron destaca o surgimento dos Centros de Ciências e sua abordagem interativa dos objetos, sem, contudo, armazenarem uma coleção ou realizarem pesquisas originais, e, ainda, o grande número de atratividades oferecido por muitas instituições, atestando a indefinição do que seria a função social dos museus. Para o autor, os protestos contra museus e galeria de arte ocorridos na década de setenta, refletiam a necessidade de restabelecer os fóruns na sociedade, onde debates, experimentações e confrontos pudessem ocorrer livremente. No entanto, não bastaria reformar o Museu-Templo criar um novo estabelecimento dedicado às atividades do Museu Fórum, afim de que o primeiro não roubasse a vitalidade e autonomia do segundo.


Embora separados física e administrativamente, os museus deveriam compartilhar os serviços comuns e o público. Quando obrigados a coexistir na mesma estrutura, Cameron recomendava que fossem criadas separações visuais e distinções psicológicas entre os dois, usando modificações na arquitetura e na sinalização. As funções dos dois lugares deveriam estar muito claro na mente dos visitantes, curadores, diretores, sustentadores e agências financiadoras da instituição. (CAMERON, 2007, p.71). Os eventos do Fórum deveriam ser divulgados para a grande massa e se integrar aos circuitos de comunicação eletrônica, criando igualdade de oportunidades culturais, pois, “a sociedade não toleraria mais instituições que, fosse na aparência ou na atuação, servissem a uma audiência minoritária da elite (CAMERON, 2007, p.72)”. A pluralização do museu era, para Cameron, uma resposta às necessidades da sociedade, onde a instância Fórum asseguraria que novas e desafiantes percepções da realidade pudessem ser vistas e ouvidas por todos, renovando, por conseqüência, a instância Templo, numa relação processo-produto.


“Em termos práticos e específicos, estou propondo não apenas espaços de exibição e encontros abertos a todos, mas também programas e fundos para aqueles que aceitarem sem reservas as mais radicais inovações nas formas de arte, as mais controversas interpretações da história, de nossa própria sociedade, da natureza do homem, ou, o mais importante, da natureza de nosso mundo”. (CAMERON, 2007, p.69). (tradução minha)

“O sistema acadêmico de classificação, que constitui um indecifrável código para a maioria dos visitantes de museus, deve ser igualmente substituído, ou melhor, ser complementado pela interpretação das coleções baseada na provável experiência e conhecimento da audiência do museu. (...) A história social e a percepção dos antropologistas devem ser usados para desenvolver técnicas de interpretação que coloquem as coleções e, especialmente, os “tesouros” do museu, em uma perspectiva mais realista.” (CAMERON, 2007, p.67). (tradução minha)
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Em minha pesquisa, este modelo conceitual de museu emergiu como uma resposta pertinente às demandas da atualidade por agências mediadoras entre sociedade e organismos decisórios.
Fica para outro post.


[1] Para Cameron, em termos de suas funções sociológicas, o museu se parece mais com uma igreja do que com uma escola, uma vez que ele provê oportunidade para a reafirmação da fé; é um lugar para experiências íntimas e privadas, embora compartilhadas com muitos outros; é, conceitualmente, o templo das musas (...).

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